quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Santos Ciganos

SANTA SARA A KALÍ


Em 26 de setembro de 1965 (naquela mesma ocasião em que fomos comparados a Jesus), foi COROADA no Vaticano, por aquele mesmo vigário de Cristo (Paulo VI), uma Nossa Senhora de pele escura, descalça, com um vestido vermelho de barra dourada, tendo uma blusa azul escuro sobre outra azul celeste, cabelos pretos com um lenço vermelho sobre eles, segurando uma criança no colo. Decorridos 37 anos, no dia 8 de outubro de 2002, o papa João Paulo II, LAUREOU a mesma Nossa Senhora, proclamando-a como “RAINHA DOS CIGANOS”. Inclusive, instituiu a seguinte oração:
“Ó Mãe, que conheces os sofrimentos e as esperanças da Igreja e do mundo, assiste os teus filhos nas provações quotidianas que a vida reserva a cada um e faz com que, graças ao esforço de todos, as trevas não prevaleçam sobre a luz. A Ti, aurora da salvação, confiamos o nosso caminho no novo milênio para que, sob Tua guia, todos os homens descubram Cristo, luz do mundo e único Salvador, que reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” 
IMPORTANTE:

- Confeccionada em estilo “barroco”, cada imagem é consagrada antes da pintura e depois, antes da colocação do diclô.
- O MANTO: Em vermelho e amarelo-ouro para os ciganos Calon; azul e branco para os Kalderasch.
- FLORES: Ao redor dos pés e do manto, pois conta a história que, “ao desembarcar na praia, onde Sara pisava nasciam flores”.

Como nós ciganos, Santa Sara Kalí tem suas origens envoltas nas brumas da lenda e do mito. O epíteto "Kali" significa "negra” (em língua Kaló), porque sua tez é escura. Seu culto se liga ao culto das Madonas Negras.
O fato é que Sara é uma “santa” de culto local, de existência tolerada, mas não oficialmente reconhecida pela Igreja Católica, (embora inúmeras fontes afirmem que sua canonização consta de 1712). Em Camargue, ela é representada por uma imagem de madeira, de cor negra, vestida com ricos brocados e guardada no interior da cripta da igreja de Nossa Senhora do Mar, principal templo católico de Saintes-Maries-de-la-Mer. No Brasil, vários grupos ciganos a invocam, também com o nome de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Penha.

Ao contrário de Zeferino Giménez Malla, Sara Kalí ainda não foi oficialmente canonizada. Mas para os ciganos, ela intercede junto a Jesus Cristo em nome daqueles que desejam receber ajuda divina em todos os aspectos da vida. Além de trazer saúde e prosperidade é cultuada principalmente pelas mulheres, por ajudá-las diante da dificuldade de engravidar. Desde muito, quando não conseguiam ter filhos faziam promessas a ela e, se concebessem, iriam a sua cripta. Lá faziam uma noite de vigília e depositavam em seus pés - como agradecimento, um lenço de cabeça dicrô (sempre o “mais bonito” que encontrassem). São milhares os lenços deixados lá como prova dos seus milagres. As pessoas fazem todo tipo de pedido para Santa Sara, por sua fama de atender todos os que depositam verdadeira fé nela. Mas perseguirá os opressores, os racistas, aqueles que vão contra seus protegidos primeiros (os ciganos). Santa Sara é a santa dos desesperados, dos ofendidos, dos desamparados e das causas “impossíveis”.

o templo mais antigo e mais cultuado, localiza-se em Saintes-Maries-De-La-Mer.
Através de uma longa noite de vigília e orações, os ciganos e devotos espalhados pelo mundo inteiro, com candeias de velas azuis, flores e vestes coloridas, além de muita música e muita dança, reverenciam a PADROEIRA dos ciganos nos dias 24 e 25 de maio. Este simbolismo religioso, com orações, danças e músicas representa, em nossas tradições, o processo de purificação e renovação da natureza e o eterno “retorno dos tempos”.

A ORAÇÃO EM LÍNGUA ROMANI
TU KE SAN PERVO ICANA ROMLI ANELUMIA
TU KE BILADIATO LE GAJIE ANASSOGODI GUINDIÇAS
TU KE DARADIATO LE GAJIE, TAI CHUDIATO ANEMARIA,
THIE MERES BI PAIESCO TAI BOCOTAR
JANES SO SI E DAR, E BOCK, THAI O DUCK ANO ILÔ
THIENÁ MEKES MURRE DUSMAIA THIE AÇAL
MANDAR THAI THIE BILAVELMA
THIE AVES MURRI DUKATA ANGRAL O DHIEL
THIE DHIESMA BAR, SASTIMÔS, THAI THIE
BLAGOIS MURRÔ TRAIO.
THIE DIEL O DHIEL.

Tradução:
Tu que és a única santa cigana do mundo
Tu que sofrestes todas as formas de humilhação e preconceitos
Tu que fostes amedrontada e jogada ao mar,
para que morresses de sede e de fome
Tu sabes o que é o medo, a fome e a dor no coração.
Não permitas que meus inimigos zombem de mim ou me maltratem
Que tu sejas minha advogada perante o deus.
Que me concedas sorte, saúde, e que abençoe a minha vida.
Amém.
Protegidos

Santa Sara Kali protege as mulheres quem estão com dificuldades para engravidar. Muitas ciganas que não conseguiam ter filhos faziam promessas a ela, no sentido de que se engravidassem. Se isso de fato ocorresse, as gestantes iriam à cripta da Santa, em Saintes Maries de La Mer no sul da França, fariam uma noite de vigília e depositariam em seus pés como oferenda um diklô (um lenço cigano), o mais bonito que encontrassem. Neste local existem milhares de lenços, como prova de que muitas ciganas receberam esta graça.

Lendas

Muitos livros contam que teria ela acompanhado as três Marias (Jacobé irmã de Maria e mãe de Jesus, Salomé mãe dos apóstolos Tiago Maior e João e Madalena), que juntos com José de Arimatéia, fugiram da Palestina numa pequena barca, transportando o “Santo Graal” (o cálice sagrado) que seria levado para um mosteiro da antiga Bretanha. Dizem ainda, que a barca teria perdido a direção durante o trajeto e atracado no porto de Camargue, às margens do Mediterrâneo, que por sua vez ficou conhecido como "Saintes-Maries-De-La-Mer", transformando-se desde então num local de grande concentração dos ciganos. Santa Sara passou a ser comemorada e reverenciada todos os anos nos dias 24 e 25 de maio, por meio de uma longa noite de vigília e oração, na foz do rio Petit Rhône, na província de Languedoc, sul da França, onde milhares de ciganos do mundo inteiro passaram a se reunirem todos os anos. A imagem de Santa Sara fica na cripta da igreja de Saint Michel, onde estariam depositados seus ossos.

Muitas lendas publicadas por não-ciganos acabaram confundindo a história de Santa Sara Kalí. Muitas versões contadas vêm atrapalhando seu processo de santificação. Para alguns ela foi uma “antiga rainha das terras de Camargue”; outros a vêem como uma “egípcia” ou “negra africana” levada de uma para outra margem do Mediterrâneo; há quem a considere uma “sacerdotisa do antigo culto oriental ao deus Mitra; outros ainda acham Sara a “personificação de uma divindade feminina dos celtas” (uma espécie de Grande Mãe ligada a terra)...

Uma das explicações para estas histórias é que em Camargue existiram várias colônias de antigas civilizações, como a egípcia, a cretense, a fenícia e a grega. Por isso, muitos poetas e menestréis contaram a história de Sara, de acordo com o que ouviram de seu povo, e assim, o mito em torno dessa poderosa santa foi difundido pelo mundo.

Há muitas lendas sobre Santa. Algumas falam que ela era serva e parteira de Maria e que foi ela que trouxe Jesus ao mundo. Outra lenda diz que ela era serva de Maria Madalena.
A lenda mais comum conta que Maria Madalena, Maria Jacobina, Maria Salomé, José de Arimatéia e Trofino, junto com Sara, uma serva, foram atirados ao mar, numa barca sem remos e sem provisões.Desesperadas, as três Marias puseram-se a orar e a chorar. Neste momento Sara retira o diklô (lenço) da cabeça, chama por Jesus Cristo e promete que se todos se salvassem ela seria escrava de Jesus e jamais andaria com a cabeça descoberta em sinal de respeito. Milagrosamente, a barca sem rumo e à mercê de todas as intempéries, atravessou o oceano e aportou com todos salvos em Saintes-Maries-de-La-Mer. Sara cumpriu a promessa até o final dos seus dias.
Hoje, as pessoas fazem todo tipo de pedido para Santa Sara, pois ela possui a fama de atender todos os que tem verdadeira fé. Santa Sara é a santa dos desesperados, dos ofendidos e dos desamparados.
Abaixo destaco duas Orações para fazer a Santa Sara Kali no dia dela ou em qualquer momento que necessitar de sua ajuda.

Primeira oração de Santa Sara Kali

Santa Sara, minha protetora, cubra-me com seu manto celestial. Afaste as negatividades que porventura estejam querendo me atingir. Santa Sara, protetora dos ciganos, sempre que estivermos nas estradas do mundo, proteja-nos e ilumine nossas caminhadas. Santa Sara, pela força das águas, pela força da Mãe-Natureza, esteja sempre ao nosso lado com seus mistérios. Nós, filhos dos ventos, das estrelas, da Lua cheia e do Pai, só pedimos a sua proteção contra os inimigos. Santa Sara, ilumine nossas vidas com seu poder celestial, para que tenhamos um presente e um futuro tão brilhantes, como são os brilhos dos cristais. Santa Sara, ajude os necessitados; dê luz para os que vivem na escuridão, saúde para os que estão enfermos, arrependimento para os culpados e paz para os intranquilos. Santa Sara, que o seu raio de paz, de saúde e de amor possa entrar em cada lar, neste momento. Santa Sara, dê esperança de dias melhores para essa humanidade tão sofrida. Santa Sara milagrosa, protetora do povo cigano, abençoe a todos nós, que somos filhos do mesmo Deus.
Segunda oração de Santa Sara Kali 
Farol do meu caminho! Facho de Luz! Paz! Manto Protetor! Suave conforto. Amor! Hino de Alegria! Abertura dos meus caminhos! Harmonia! Livra-me dos cortes. Afasta-me das perdas. Dai-me a sorte! Faz da minha vida um hino de alegria, e aos seus pés me coloco, minha Sara, minha Virgem Cigana. Toma-me como oferenda e me faz de flor profana o mais puro lírio que orna e traz bons presságios à Tenda. Salve! Salve! Salve!




São Ceferino Giménez Malla



Em 4 de maio de 1998, na Praça de São Pedro, o papa João Paulo II fez do espanhol Calon, CEFERINO GIMÉNEZ MALLA, provavelmente nascido em 26 de agosto de 1861, em Benavent de Segriá (Lérida-Catalunha), o primeiro SANTO cigano do mundo, num processo diocesano iniciado em Barbastro, a 27 de Novembro de 1993. Comparando Ceferino com Jesus, o pontífice citou Mateus 9,35: “Ele andava por todas as cidades e aldeias”.

Milhares de ciganos, dos mais diferentes países participaram da missa de beatificação de “São Zeferino”. Com suas músicas, cores e alegria, literalmente os Rom tomaram conta da Praça de São Pedro, na cidade do Vaticano, para homenagear São Zeferino e pedir as suas bênçãos. No Vaticano há um quadro pintado do santo-cigano, onde lemos: “Quadro que retrata a grande devoção à Eucaristia e ao Rosário do Beato Ceferino Giménez Malla, um verdadeiro cigano, cristão e mártir, pleno do amor de Cristo”.

Esta foi à profecia do juiz espanhol que decretou a inocência do cigano Ceferino, preso por suposto roubo de cavalos: “El Pelé não é um ladrão. Ele é São Zeferino Gimenez Malla, o patrono dos ciganos”.

Comerciante de cavalos, nascido na Catalunha (Espanha) em 1861, são muitas as maravilhas que se contam de “El Pelé”. Religioso a toda prova, catequista embora analfabeto, como bom cigano amante da natureza e das crianças, costuma bater sempre à porta dos pobres da região onde morava para dividir com eles mantimentos, bondade e solidariedade. A casa de Ceferino sempre esteve aberta para quem buscasse o que comer, um abrigo, ou um gesto de misericórdia. Casado aos 18 anos com uma kalin (cigana) de nome Teresa Jiménez Castro, não tiveram filhos, mas adotaram uma menina cigana de nome “Maruja”, que o acompanhou até o final de sua vida. Fica viúvo no dia 4 de dezembro de 1922. Quando se estabeleceu em Barbastro (Huesca-Aragona), soube, com a prudência de o cigano ganhar a estima também dos não-ciganos, passando a ser chamado pelos concidadãos de “presidente dos ciganos”, “advogado dos pobres” e “pacificador”. Entre seu povo, Ceferino vivia segundo a lei cigana: com força, mas na justiça. Sua sobrinha sempre dizia: “Tudo o que fazia tio Pelé, fazia-o com amor; espalhava amor em toda parte! Diante das dificuldades, sempre resignado, costuma dizer: “Deus o quis. Ele bem sabe o que faz. Que Deus seja Louvado.”

Em 1936, foi preso aos 75 anos de idade, durante a Guerra Civil Espanhola, onde, na zona sob o Governo Republicano, 6.783 padres, frades e freiras, além de 13 bispos e muitos simples cristãos foram assassinados, num sábado do dia 25 de julho, ao tentar interceder por um jovem sacerdote que estava sendo maltratado por milicianos. Ceferino foi preso ao exclamar: “Maria Virgem! Tantos homens contra um e até inocente!”
Depois de 15 dias no cárcere do convento requisitado das “irmãs Clarissas Capuchas”, recebe a visita de um amigo anárquico e influente, que a pedido de familiares, quis ajudá-lo. Encontra-o tranqüilo e orando, quando lê diz: “... Pelé, não te mostres mais a rezar tanto. Esconde esse terço e eu te libertarei...”

O cigano agradeceu sem lhe prestar atenção...

Nas primeiras horas do dia 9 de agosto daquele ano, Ceferino, atado a outros 12 condenados (inclusive o bispo Florentino), foi levado num caminhão para o cemitério da cidade. O condutor contou depois: “Durante toda a viagem, o cigano não deixava de gritar: “Que viva o Cristo rei!

Foi fuzilado (junto com os outros 12), com um terço nas mãos. Quem o matou lhe tirou as calças e os sapatos. Nu, seu corpo foi lançado numa fossa comum e jamais encontrado.

Nota: Barbastro e arredores é em proporção, a diocese mais rica de mártires da Espanha (82%). Durante a Guerra Civil foram mortas centenas de pessoas, além de: 1 bispo, 114 padres (dos 140 presentes na diocese), 51 jovens missionários, 18 monges, 8 frades professores, centenas de cristãos leigos (entre eles 18 da Ação Católica e 4 mulheres).

Padre Jorge Rocha Pierozan, atual vice-presidente da “Pastoral dos Nômades do Brasil”, que esteve presente naquele dia 4 de maio de 1998 no Vaticano, escreveu na revista “Sem Fronteiras”: “Beato Ceferino do Cavalo Branco, rogai por nós! Todos os anos, no dia 4 de maio, vamos celebrar com os ciganos a festa do beato Ceferino, padroeiro de sua raça. Enquanto isso, vamos rezar para que nosso mártir seja logo canonizado e que surjam outros (as) beatos (as) e santos (as) no meio dos grupos ciganos do mundo inteiro”.

Com aprovação eclesiástica do “Comitê Internacional para a Causa de Canonização - Piazza Missori, 4 – Milano - Itália”


ORAÇÃO DE SÃO CEFERINO:

“Deus Pai, grande e bondoso, com a luz e a força do Teu Espírito, uniste à paixão de Jesus o cigano Ceferino, primeiro mártir de seu povo. Nós Te agradecemos por terdes assim honrado todos os nômades do mundo, que tanto amas. Faze brotar entre sua gente -e na Igreja- missionários santos e ajuda-nos a imitar o exemplo deste verdadeiro homem de fé: repleto de amor por Ti e bom samaritano para com o próximo. Sustentados -como ele- pela Eucaristia e pela oração à Maria nos tornamos cristãos preparados para trilhar o caminho da cruz, na esperança de compartilhar eternamente a Tua glória. Amém!”